terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Mario Faustino, a salvacao da lavoura nacional

Os versos mais dignos e pungentes desta terra que tem palmeira e sabia, mas onde muitos bons versos nao ha... Virgilio-encontra-Petrarca-que-encontra-Mallarme-e-todos-juntos-vao-tomar-um-trago-a-casa-de-cummings, tambem conhecido por Mario Faustino :

Sete Sonetos de Amor e de Morte


I. O mundo que venci deu-me um amor

O mundo que venci deu-me um amor,
Um troféu perigoso, este cavalo
Carregado de infantes couraçados.
O mundo que venci deu-me um amor
Alado galopando em céus irados.
Por cima de qualquer muro de credo,
Por cima de qualquer fosso de sexo.
O mundo que venci deu-me um amor
Amor feito de insulto e pranto e riso,
Amor que força as portas dos infernos,
Amor que galga o cume ao paraíso.
Amor que dorme e treme. Que desperta
E torna contra mim, e me devora
E me rumina em cantos de vitória...

II. Nam Sibyllam...

Lá onde um velho corpo desfraldava
As trêmulas imagens de seus anos;
Onde imaturo corpo condenava
Ao canibal solar seus ternos anos;
Lá onde em cada corpo vi gravadas
Lápides eloqüentes de um passado
Ou de um futuro argüido pelos anos;
Lá cândidos leões alvijubados
Às brisas temporais se espedaçavam
Contra as salsas areias sibilantes;
Lá vi o pó do espaço me enrolando
Em turbilhões de peixes e presságios
Pois na orla do mundo as delatantes
Sombras marinhas, vagas, me apontavam.

III. Inferno, eterno inverno, quero dar

Inferno, eterno inverno, quero dar
Teu nome à dor sem nome deste dia
Sem sol, céu sem furor, praia sem mar,
Escuma de alma à beira da agonia.
Inferno, eterno inverno, quero olhar
De frente a gorja em fogo da elegia,
Outono e purgatório, clima e lar
De silente quimera, quieta e fria.
Inverno, teu inferno a mim não traz
Mais do que a dura imagem do juízo
Final com que me aturde essa falaz
Beleza de teus verbos de granizo:
Carátula celeste, onde o fugaz
Estio de teu riso — paraíso?

IV. Agonistes

Dormia um redentor no sol que ardia
O louro e a cera, dons hipotecados
Da carne postulada pelo dia;
Dormia um redentor nos incensados
Lençóis que a lua póstuma cobria
De mirra e de açafrões embalsamados;
Dormia um redentor no navegante
Das mortalhas de escuma que roía
O verme de seus sonhos abafados;
E até no atol do sexo triunfante
Do mar e da salsugem da agonia
Dormia um redentor: e era bastante
Para acordá-lo o verso que bramia
No cérebro do atleta e lá morria.

V. Onde paira a canção recomeçada

Onde paira a canção recomeçada
No capitel de acanto de teu lar?
Onde prossegue a dança terminada
Nas lajes de meu tempo de chorar?
Rapaz, em minhas mãos cheias de areia
Conto os astros que faltam no horizonte
Da praia soluçante onde passeia
A espuma de teu fim, pranto sem fonte.
Oh juventude, um pálio de inocência
Jamais se estenderá sobre outra aurora
Mais clara que esta clara adolescência
Onde o lupanar da noite hoje devora:
Que vale o lenço impuro da elegia
Sobre teu rosto, lúcida alegria?

VI. Ego de Mona Kateudo


Dor, dor de minha alma, é madrugada
E aportam-me lembranças de quem amo.
E dobram sonhos na mal-estrelada
Memória arfante donde alguém que chamo
Para outros braços cardiais me nega
Restos de rosa entre lençois de olvido.
Ao longe ladra um coração na cega
noite ambulante. E escuto-te o mugido,
Oh vento que meu cérebro aleitaste,
Tempo que meu destino ruminasse.
Amor, amor, enquanto luzes, puro,
Dormindo é claro, eu velo em vasto escuro,
Ouvindo as asas roucas de outro dia
Cantar sen despertar minha alegria

VII. Estava lá Aquiles, que abraçava

Estava lá Aquiles, que abraçava
Enfim Heitor, secreto personagem
Do sonho que na tenda o torturava;
Estava lá Saul, tendo por pajem
Davi, que ao som da cítara cantava;
E estavam lá seteiros que pensavam
Sebastião e as chagas que o mataram.
Nesse jardim, quantos as mãos deixavam
Levar aos lábios que os atraiçoaram!
Era a cidade exata, aberta, clara:
Estava lá o arcanjo incendiado
Sentado aos pés de quem desafiara;
E estava lá um deus crucificado
Beijando uma vez mais o enforcado.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Bangnis, Rilke

Bangnis

Im welken Walde ist ein Vogelruf,
der sinnlos scheint in diesem welken Walde.
Und dennoch ruht der runde Vogelruf
in dieser Weile, die ihn schuf,
breit wie ein Himmel auf dem welken Walde.
Gefügig räumt sich alles in den Schrei:
Das ganze Land scheint lautlos drin zu liegen,
der große Wind scheint sich hineinzuschmiegen,
und die Minute, welche weiter will,
ist bleich und still, als ob sie Dinge wüßte,
an denen jeder sterben müßte,
aus ihm herausgestiegen.

Anxiousness
(Transl. Cliff Crego)

In the faded forest sounds the call of a bird,
which seems so meaningless in this faded forest.
And yet the resonant call of the bird rests
in this moment which brought it forth,
as wide as the heavens above the faded forest.
Docilely, everything empties itself into the cry:
The entire countryside seems silently there,
the immense wind seems nestled inside,
and the minute, that wishes to move on,
is ashen and quiet, as if it knew things
that, in order for them to rise out of him,
a man would first have to die.

Atendendo a pedido... o proximo e italiano !

Il Narciso e la rosa, Pasolini (de : L'usignolo della Chiesa Cattolica, 1958)

Non Narciso, lo specchio
brilla nel verdecupo
prato della mia morta
fanciullezza di lupo...

Buona sera, Demonio,
mi ascolti sorridendo?
Ma non aprire bocca,
ho capito, mi arrendo.

Parlavo dello specchio
che null'altro è che luce
pura, riflessa - nido
di poetici echi.

No, Narciso non c'entra,
s'è guardato abbastanza;
e, una volta tanto,
posso affrontarti intrepido.

Sogno o indífferenza.
o memoria, non so,
l'argenteo specchio splende
nel nero prato solo.

Mi soggíoga il suo raggio
vespertino che fruga
immoto nella mesta
ombra del paesaggio.

Vieni, caro Demonio,
e contempliamo insieme
l'assenza di Narciso
nell'argento del sogno.

Non imperversa il riso
nella tua bocca odiosa?
Ebbene, amico, cogli
nell'orto una rosa.

Moralità o poesia o
bellezza, non so,
protendo questa rosa
a rispecchiarsi sola.

sábado, 12 de janeiro de 2008

"The day is done" (are we not ?)

The day is done, and the darkness
Falls from the wings of night,
As a feather is wafted downward
From an eagle in his flight.
I see the lights of the village
Gleam through the rain and the mist,
And a feeling of sadness comes o'er me
That my soul cannot resist:
A feeling of sadness and longing,
That is not akin to pain,
And resembles sorrow only
As the mist resembles the rain.
Come, read to me some poem,
Some simple and heartfelt lay,
That shall soothe this restless feeling,
And banish the thoughts of day.
Not from the grand old masters,
Not from the bards sublime,
Whose distant footsteps echo
Through the corridors of Time.
For, like strains of martial music,
Their mighty thoughts suggest
Life's endless toil and endeavor;
And to-night I long for rest.
(...)

Longfellow

Rejecta mathematica !

Vejam so que ideia genial :

Rejecta Mathematica (http://math.rejecta.org/) is a new, open access, online journal that publishes only papers that have been rejected from peer-reviewed journals (or conferences with comparable review standards) in the mathematical sciences. We are currently seeking submissions for our inaugural issue.

About Rejecta Mathematica
At Rejecta Mathematica, we believe that many previously rejected papers can nonetheless have a very real value to the academic community. This value may take many forms:


1) "mapping the blind alleys of science": papers containing negative results can warn others against futile directions;

2) "reinventing the wheel": papers accidentally rederiving a known result may contain new insight or ideas;

3) "squaring the circle": papers discovered to contain a serious technical flaw may nevertheless contain information or ideas of interest;

4) "applications of cold fusion": papers based on a controversial premise may contain ideas applicable in more traditional settings;

5) "misunderstood genius": other papers may simply have no natural home among existing journals.

Ate agora o parametro de impacto e zero... quem da mais ?

As instrucoes para submissao sao surreais; estao em http://math.rejecta.org/author-guidelines.

En passant : que paisinho de merda e o Uruguay !

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Rêvé pour l'hiver, para a minha querida "Katherine" :-)

L'hiver, nous irons dans un petit wagon rose
Avec des coussins bleus.
Nous serons bien.
Un nid de baisers fous repose
Dans chaque coin moelleux.

Tu fermeras l'oeil, pour ne point voir, par la glace,
Grimacer les ombres des soirs,
Ces monstruosités hargneuses, populace
De démons noirs et de loups noirs.

Puis tu te sentiras la joue égratignée...
Un petit baiser, comme une folle araignée,
Te courra par le cou...

Et tu me diras : " Cherche ! " en inclinant la tête,
- Et nous prendrons du temps à trouver cette bête
- Qui voyage beaucoup...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Petrarca : extraido de "Il Canzoniere (Rerum vulgarium fragmenta)" 37

Sí è debile il filo a cui s'attene
la gravosa mia vita
che, s'altri non l'aita,
ella fia tosto di suo corso a riva;
però che dopo l'empia dipartita 5
che dal dolce mio bene
feci, sol una spene
è stato infin a qui cagion ch'io viva,
dicendo: Perché priva
sia de l'amata vista, 10
mantienti, anima trista;
che sai s'a miglior tempo ancho ritorni
et a piú lieti giorni,
o se 'l perduto ben mai si racquista?
Questa speranza mi sostenne un tempo: 15
or vien mancando, et troppo in lei m'attempo.

Il tempo passa, et l'ore son sí pronte
a fornire il vïaggio,
ch'assai spacio non aggio
pur a pensar com'io corro a la morte: 20
a pena spunta in orïente un raggio
di sol, ch'a l'altro monte
de l'adverso orizonte
giunto il vedrai per vie lunghe et distorte.
Le vite son sí corte, 25
sí gravi i corpi et frali
degli uomini mortali,
che quando io mi ritrovo dal bel viso
cotanto esser diviso,
col desio non possendo mover l'ali, 30
poco m'avanza del conforto usato,
né so quant'io mi viva in questo stato.

Ogni loco m'atrista ov'io non veggio
quei begli occhi soavi
che portaron le chiavi 35
de' miei dolci pensier', mentre a Dio piacque;
et perché 'l duro exilio piú m'aggravi,
s'io dormo o vado o seggio,
altro già mai non cheggio,
et ciò ch'i' vidi dopo lor mi spiacque. 40
Quante montagne et acque,
quanto mar, quanti fiumi
m'ascondon que' duo lumi,
che quasi un bel sereno a mezzo 'l die
fer le tenebre mie, 45
a ciò che 'l rimembrar piú mi consumi,
et quanto era mia vita allor gioiosa
m'insegni la presente aspra et noiosa!

Lasso, se ragionando si rinfresca
quel'ardente desio 50
che nacque il giorno ch'io
lassai di me la miglior parte a dietro,
et s'Amor se ne va per lungo oblio,
chi mi conduce a l'ésca,
onde 'l mio dolor cresca? 55
Et perché pria tacendo non m'impetro?
Certo cristallo o vetro
non mostrò mai di fore
nascosto altro colore,
che l'alma sconsolata assai non mostri 60
piú chiari i pensier' nostri,
et la fera dolcezza ch'è nel core,
per gli occhi che di sempre pianger vaghi
cercan dí et nocte pur chi glien'appaghi.

Novo piacer che negli umani ingegni 65
spesse volte si trova,
d'amar qual cosa nova
piú folta schiera di sospiri accoglia!
Et io son un di quei che 'l pianger giova;
et par ben ch'io m'ingegni 70
che di lagrime pregni
sien gli occhi miei sí come 'l cor di doglia;
et perché a·cciò m'invoglia
ragionar de' begli occhi,
né cosa è che mi tocchi 75
o sentir mi si faccia cosí a dentro,
corro spesso, et rïentro,
colà donde piú largo il duol trabocchi,
et sien col cor punite ambe le luci,
ch'a la strada d'Amor mi furon duci. 80

Le treccie d'òr che devrien fare il sole
d'invidia molta ir pieno,
e 'l bel guardo sereno,
ove i raggi d'Amor sí caldi sono
che mi fanno anzi tempo venir meno, 85
et l'accorte parole,
rade nel mondo o sole,
che mi fer già di sé cortese dono,
mi son tolte; et perdono
piú lieve ogni altra offesa, 90
che l'essermi contesa
quella benigna angelica salute
che 'l mio cor a vertute
destar solea con una voglia accesa:
tal ch'io non penso udir cosa già mai 95
che mi conforte ad altro ch'a trar guai.

(...)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Théophile Gautier, pai de Baudelaire

Le roi solitaire

(Gautier, "España")


Je vis cloîtré dans mon âme profonde,
Sans rien d'humain, sans amour, sans amis,
Seul comme un dieu, n'ayant d'égaux au monde
Que mes aïeux sous la tombe endormis !
Hélas ! grandeur veut dire solitude.
Comme une idole au geste surhumain,
Je reste là, gardant mon attitude,
La pourpre au dos, le monde dans la main.

Comme Jésus, j'ai le cercle d'épines ;
Les rayons d'or du nimbe sidéral
Percent ma peau comme des javelines,
Et sur mon front perle mon sang royal.
Le bec pointu du vautour héraldique
Fouille mon flanc en proie aux noirs soucis :
Sur son rocher, le Prométhée antique
N'était qu'un roi sur son fauteuil assis.

De mon olympe entouré de mystère,
Je n'entends rien que la voix des flatteurs ;
C'est le seul bruit qui des bruits de la terre
Puisse arriver à de telles hauteurs ;
Et si parfois mon peuple, qu'on outrage,
En gémissant entrechoque ses fers :
" Sire ! dormez, me dit-on, c'est l'orage ;
Les cieux bientôt vont devenir plus clairs. "

Je puis tout faire, et je n'ai plus d'envie.
Ah ! si j'avais seulement un désir !
Si je sentais la chaleur de la vie !
Si je pouvais partager un plaisir !
Mais le soleil va toujours sans cortège ;
Les plus hauts monts sont aussi les plus froids ;
Et nul été ne peut fondre la neige
Sur les sierras et dans le coeur des rois !

Spleen
(Baudelaire, "Les Fleurs du Mal", LXXVII)

Je suis comme le roi d'un pays pluvieux,
Riche, mais impuissant, jeune et pourtant très vieux,
Qui, de ses précepteurs méprisant les courbettes,
S'ennuie avec ses chiens comme avec d'autres bêtes.
Rien ne peut l'égayer, ni gibier, ni faucon,
Ni son peuple mourant en face du balcon.
Du bouffon favori la grotesque ballade
Ne distrait plus le front de ce cruel malade;
Son lit fleurdelisé se transforme en tombeau,
Et les dames d'atour, pour qui tout prince est beau,
Ne savent plus trouver d'impudique toilette
Pour tirer un souris de ce jeune squelette.
Le savant qui lui fait de l'or n'a jamais pu
De son être extirper l'élément corrompu,
Et dans ces bains de sang qui des Romains nous viennent,
Et dont sur leurs vieux jours les puissants se souviennent,
II n'a su réchauffer ce cadavre hébété
Où coule au lieu de sang l'eau verte du Léthé

Ao meu querido Cecchino, com um beijao de feliz ano-novo !

La Belle Dame Sans Merci

Ballad


I.

O WHAT can ail thee, knight-at-arms,
Alone and palely loitering?
The sedge has wither’d from the lake,
And no birds sing.

II.

O what can ail thee, knight-at-arms! 5
So haggard and so woe-begone?
The squirrel’s granary is full,
And the harvest’s done.

III.

I see a lily on thy brow
With anguish moist and fever dew, 10
And on thy cheeks a fading rose
Fast withereth too.

IV.

I met a lady in the meads,
Full beautiful—a faery’s child,
Her hair was long, her foot was light, 15
And her eyes were wild.

V.

I made a garland for her head,
And bracelets too, and fragrant zone;
She look’d at me as she did love,
And made sweet moan. 20

VI.

I set her on my pacing steed,
And nothing else saw all day long,
For sidelong would she bend, and sing
A faery’s song.

VII.

She found me roots of relish sweet, 25
And honey wild, and manna dew,
And sure in language strange she said—
“I love thee true.”

VIII.

She took me to her elfin grot,
And there she wept, and sigh’d fill sore, 30
And there I shut her wild wild eyes
With kisses four.

IX.

And there she lulled me asleep,
And there I dream’d—Ah! woe betide!
The latest dream I ever dream’d 35
On the cold hill’s side.

X.

I saw pale kings and princes too,
Pale warriors, death-pale were they all;
They cried—“La Belle Dame sans Merci
Hath thee in thrall!” 40

XI.

I saw their starved lips in the gloam,
With horrid warning gaped wide,
And I awoke and found me here,
On the cold hill’s side.

XII.

And this is why I sojourn here, 45
Alone and palely loitering,
Though the sedge is wither’d from the lake,
And no birds sing.

John Keats